Há muito não escrevia, mas estimulado por meu professor e
amigo, Edilson Pinto e pela leitura do seu livro Sísifo Apaixonado, decidi
tecer alguns comentários a respeito de algo que venho observando: está em curso
uma grande mudança na maneira como as pessoas vivem e se relacionam. Não que eu
seja um sociólogo ou expert no assunto, longe disso, mas sou um simples curioso
observador do cotidiano humano e que tem a utopia de querer viver em um mundo
melhor. Quero ter a consciência tranquila que não me abstive de dizer o que
acho que está errado (talvez o errado seja eu, quem sabe?) e de defender os
meus princípios.
O
amplo acesso à internet vem permitindo que muitas pessoas se relacionem mais
umas com as outras, as distâncias estão mais curtas, velhos amigos e parentes
estão logo ali, do outro lado da tela, à distancia de um clique. Ao mesmo
tempo, a natureza desses relacionamentos está mais superficial. As pessoas
estão mais preocupadas em postar do que em viver, em se conectar com quem está
distante do que conversar com quem está sentado ao seu lado. Hoje é mais
importante parecer (e aparecer) do que ser. A busca incessante por “curtidas”,
“likes” e pela ostentação está nos tornando loucos obcecados e alheios ao que
realmente importa. Todavia, o mais preocupante desse movimento transformacional
é a perda do senso crítico. Informações provenientes de fonte obscura são
repassadas entre as pessoas como se fosse a mais absoluta verdade, sem nem se
checar a sua veracidade. Textos enormes são vomitados pelo whatsapp e pelas
redes sociais, como sendo provenientes de escritores famosos, quando na verdade
são criados por profissionais pagos por grupos (políticos, econômicos
religiosos etc.) com o único objetivo de influenciar as pessoas em determinado
assunto que são do interesse desses grupos. E nós, agentes ativos da internet,
disseminamos informações falsas, sofismas, às vezes imbuídos de boas intenções,
às vezes ingênuos, mas muitas vezes somente com o intuito de espalhar um boato
e ter a falsa sensação de importância. Quantas vezes não vimos a seguinte
mensagem: “não sei se é verdade, recebi em outro grupo e repassei”. Se não sabe
se é verdade, para que repassar? Certa vez,
em um grupo virtual do qual participavam pessoas instruídas, um colega
encaminhou um texto desses que fazia uma análise da conjuntura política do
Brasil. Eu me atrevi a perguntar qual era a fonte daquele texto, até para saber
se tinha algum fundo de verdade nele. A resposta que esse colega me deu foi
surpreendente: “a fonte é seu...” Não escrevo a frase completa, pois a palavra
é muito feia e faria mal aos olhos dos meus leitores, mas por mais avançada que
esteja a tecnologia, ainda desconheço um sistema capaz de colocar diretamente
na internet, aquilo que sai da porção terminal do meu tubo digestivo (embora o
conteúdo de muita coisa que circula na web tenha qualidade similar).
Algum tempo atrás, uma jovem, acho que da Holanda, disse que
faria uma viagem de volta ao mundo. Em seguida, começou a postar fotos dos
lugares visitados. Cada um mais bonito do que o outro. Uma enxurrada de
curtidas e comentários, em um misto de admiração e inveja tomou conta de sua
página em uma rede social. Após algum tempo ela revelou: nunca tinha saído do
seu país e todas aquelas fotos eram simulações ou montagens. Fez isso como
forma de crítica ao comportamento das pessoas que aceitavam qualquer informação
como verídica. E as correntes virtuais? Elas parecem ter vida própria! Tem uma
que começa assim: “saiu ontem no New York Times...”. Sem link do jornal, sem
assinatura, mas é repassada e atinge milhões de usuários como se fosse a mais
pura e cristalina verdade. São inúmeros exemplos de transmissão de correntes
sem fundamentos. Algumas já têm mais de dez anos e continuam circulando. Sem
dúvida que muitas coisas positivas existem na rede, mas temos que julgar e
analisar uma informação antes de pô-la adiante. Se não fizermos isso,
continuaremos a ser apenas mais um que espalhou uma mentira, que condenou
alguém antes do julgamento, que ajudou a criar “ídolos” passageiros, que
propagou cenas íntimas de um casal etc. Fatos que não ajudam em nada a melhorar
a nossa sociedade e nos torna cada vez mais manobrados, sem capacidade crítica
e à mercê de bandidos aproveitadores.