domingo, 13 de setembro de 2015

A disseminação da idiotice




         Há muito não escrevia, mas estimulado por meu professor e amigo, Edilson Pinto e pela leitura do seu livro Sísifo Apaixonado, decidi tecer alguns comentários a respeito de algo que venho observando: está em curso uma grande mudança na maneira como as pessoas vivem e se relacionam. Não que eu seja um sociólogo ou expert no assunto, longe disso, mas sou um simples curioso observador do cotidiano humano e que tem a utopia de querer viver em um mundo melhor. Quero ter a consciência tranquila que não me abstive de dizer o que acho que está errado (talvez o errado seja eu, quem sabe?) e de defender os meus princípios.
O amplo acesso à internet vem permitindo que muitas pessoas se relacionem mais umas com as outras, as distâncias estão mais curtas, velhos amigos e parentes estão logo ali, do outro lado da tela, à distancia de um clique. Ao mesmo tempo, a natureza desses relacionamentos está mais superficial. As pessoas estão mais preocupadas em postar do que em viver, em se conectar com quem está distante do que conversar com quem está sentado ao seu lado. Hoje é mais importante parecer (e aparecer) do que ser. A busca incessante por “curtidas”, “likes” e pela ostentação está nos tornando loucos obcecados e alheios ao que realmente importa. Todavia, o mais preocupante desse movimento transformacional é a perda do senso crítico. Informações provenientes de fonte obscura são repassadas entre as pessoas como se fosse a mais absoluta verdade, sem nem se checar a sua veracidade. Textos enormes são vomitados pelo whatsapp e pelas redes sociais, como sendo provenientes de escritores famosos, quando na verdade são criados por profissionais pagos por grupos (políticos, econômicos religiosos etc.) com o único objetivo de influenciar as pessoas em determinado assunto que são do interesse desses grupos. E nós, agentes ativos da internet, disseminamos informações falsas, sofismas, às vezes imbuídos de boas intenções, às vezes ingênuos, mas muitas vezes somente com o intuito de espalhar um boato e ter a falsa sensação de importância. Quantas vezes não vimos a seguinte mensagem: “não sei se é verdade, recebi em outro grupo e repassei”. Se não sabe se é verdade, para que repassar?  Certa vez, em um grupo virtual do qual participavam pessoas instruídas, um colega encaminhou um texto desses que fazia uma análise da conjuntura política do Brasil. Eu me atrevi a perguntar qual era a fonte daquele texto, até para saber se tinha algum fundo de verdade nele. A resposta que esse colega me deu foi surpreendente: “a fonte é seu...” Não escrevo a frase completa, pois a palavra é muito feia e faria mal aos olhos dos meus leitores, mas por mais avançada que esteja a tecnologia, ainda desconheço um sistema capaz de colocar diretamente na internet, aquilo que sai da porção terminal do meu tubo digestivo (embora o conteúdo de muita coisa que circula na web tenha qualidade similar).
         Algum tempo atrás, uma jovem, acho que da Holanda, disse que faria uma viagem de volta ao mundo. Em seguida, começou a postar fotos dos lugares visitados. Cada um mais bonito do que o outro. Uma enxurrada de curtidas e comentários, em um misto de admiração e inveja tomou conta de sua página em uma rede social. Após algum tempo ela revelou: nunca tinha saído do seu país e todas aquelas fotos eram simulações ou montagens. Fez isso como forma de crítica ao comportamento das pessoas que aceitavam qualquer informação como verídica. E as correntes virtuais? Elas parecem ter vida própria! Tem uma que começa assim: “saiu ontem no New York Times...”. Sem link do jornal, sem assinatura, mas é repassada e atinge milhões de usuários como se fosse a mais pura e cristalina verdade. São inúmeros exemplos de transmissão de correntes sem fundamentos. Algumas já têm mais de dez anos e continuam circulando. Sem dúvida que muitas coisas positivas existem na rede, mas temos que julgar e analisar uma informação antes de pô-la adiante. Se não fizermos isso, continuaremos a ser apenas mais um que espalhou uma mentira, que condenou alguém antes do julgamento, que ajudou a criar “ídolos” passageiros, que propagou cenas íntimas de um casal etc. Fatos que não ajudam em nada a melhorar a nossa sociedade e nos torna cada vez mais manobrados, sem capacidade crítica e à mercê de bandidos aproveitadores.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A INSUPORTÁVEL DUREZA DO SER



A INSUPORTÁVEL DUREZA DO SER

Devemos ser duros. É assim que tem que ser. Fomos criados assim. Não há ternura nisto. Guevara (1928-1967) mentiu, claro.

Desde cedo, o ser humano é instigado a apresentar força, liderança, criado para não demonstrar seus defeitos e seus pontos fracos. Numa luta intensa, chorar não é permitido. O lenço esconde mais do que enxuga.

“Somos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”, disse Freud (1856-1939) na sua época. Neste caminho, as pessoas não são elas mesmas. O receio de mostrar sua condição frágil leva qualquer um a tecer suas espessas máscaras. Tem que ser duro, “duro na queda” (“The Fall Guy”, série de TV americana dos anos oitenta, sessão da tarde no Brasil).

O perigoso deste “levanta, sacode a poeira e dar a volta por cima” (da música Volta por cima, Paulo Vanzolini, 1924-2013), são as atitudes mais primitivas, imaturas. Não é por acaso que ninguém quer mais conhecer a outra pessoa de forma mais estreita, mais íntima. Fica vulnerável demais ser verdadeiro. A superficialidade endurece mais o homem, torna-se seu escudo, sua égide. Fininha, mas dura. 

Pouca cordialidade, pouca consideração, gratidão não se pode mais. Ninguém cede. Todos endurecem, embrutecem, e claro, adoecem. Penso sobre quem foge do mundo sensorial, vivendo de extrema razão, atingindo esta dureza que todos cobram, mas sinceramente, criam uma redoma vazia. Racionalidade demais afasta você do simples contemplar da chuva, do simples vento na cara. "Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta” (O Ateneu, Raul Pompéia, 1863-1895). Sim, é verdade, você é duro desde pequeno, começou na sua infância. Durão.

Para onde isto tudo nos leva? Para um preparo bélico da vida, eu suponho. Temeroso quem se veste de uma armadura rígida demais, que não deixa a delgada faixa de luz entrar, logo esta que poderia modificar sua vida, deixar tudo diferente, deixar você feliz, poderia ter sido seu remédio, talvez em dose única até. Mas, você não quis, cerrou o elmo, empunhou a espada e partiu para cima.

Um simples sorriso, uma simples mensagem,um recado: impossível, isto é coisa de fracos. Um aperto de mão, um pedido de perdão, uma declaração: não pode, isso já é sensibilidade demais. Feche a cara, siga, e acabe tendo toda a emoção acumulada explodindo mais cedo ou mais tarde (porque você - bem-vindo ao mundo natural - não é uma máquina). Melhor teria sido aceitar o convite da dança. O convite de quê? Eu disse da dança, da vida, de você mesmo. Viva, deixa de ser mole, digo, deixa de ser duro. Corra pela rua, chute um balde, falte aquele encontro chato e aumente o som do carro. Não vai machucar ninguém, vai ser seu remédio, e se sentir mais vontade, sua posologia.

Alguns podem lembrar que “os brutos também amam” (filme de George Stevens, 1953). Amam os brutos, os insensíveis, os metódicos, os agressivos. Todos nós. Portanto se dê a oportunidade do carinho, do caminho mais logo para chegar ao sucesso de sua guerra, nele você sentirá mais experiências, viajará mais, perceberá mais, e pensará que o mundo só muda quando este comportamento partir do interior de si para a casca de todos. Esta nossa casca-dura. Compre um quebra-nozes.

Gustavo Xavier é Psiquiatra e um coração-mole.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Balança Comercial - por Edilson Pinto Junior


Balança comercial
Nós somos os homens ocos, nós somos os homens empalh ados apoiados uns aos outros, a cabeça cheia de palha. Ai de nós!” (T. S. Eliot)

            Era uma vez um homem que morava de frente para um rio. Vivia uma vida pacata e sem estresse. Até que um dia, ao acordar, e abrir a porta da sua casa, se depara com um corpo boiando. Ele entrou rapidamente no rio e salvou o homem que estava se afogando. No outro dia, ao abrir a porta da sua casa, ele se deparou com três corpos boiando: conseguiu salvar um, mas dois morreram... e assim, pelo resto de sua vida, ele passava o dia salvando e enterrando corpos. Nunca passou pela sua cabeça de ir rio acima, e pegar quem estava afogando os corpos. Esse homem por não entender nada de balança comercial (ele só pensava em importar os corpos do rio para a margem, sem se preocupar com quem exportava os mesmos para o rio), estava fazendo um trabalho sem utilidade alguma...
            Confesso: não entendo muito sobre balança comercial, mas o pouco que sei é que, quando as importações são maiores do que as exportações, isso leva a um déficit na economia. Pelo visto, não só sou eu que não entendo muito desse tema...
            O Governo Federal - assim como o homem que morava a beira do rio-, também entende muito pouco ou nada sobre balança comercial. Por isso que não me espanto com a inflação galopando a passos largos, e os passos de formiguinha dos nossos índices econômicos, onde o pífio PIB (Produto Interno Bruto: um Pibinho na verdade) é cada vez mais acanhado, a cada ano.
            Longe, mais muito longe de mim, ser contra a vinda de médicos cubanos para o nosso país, desde que seja dentro do que se determina e com um REVALIDA: sério e justo... Até porque se vierem médicos como Zaíra e Raul (excelentes profissionais tanto na ética e na técnica, quanto no humanismo, e que Fidel Castro e a sua revolução “democrática” não os quiseram em Cuba), que sejam muito bem vindos! O que se questiona aqui é que tentar resolver o problema da saúde pública desse país, apenas importando médicos estrangeiros, é de uma mediocridade que beira a estupidez.
Todo mundo está careca de saber que o médico brasileiro não fica no interior, porque lá não há a menor condição de exercer nenhum tipo de medicina. E não adianta pagar “excelentes” salários (que só são pagos nos primeiros meses de um contrato informal... cadê a carreira médica?!), pois como diz os Titãs: “A gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte... A gente não quer só dinheiro; a gente quer inteiro e não pela metade!”. E engana-se quem pensa que a medicina preventiva só é feita com conversas e chás: isso é de uma injustiça que só as mentalidades tacanhas, medíocres e estúpidas podem acreditar!
Mesmo Cristo - que é o caminho, a verdade e vida, pois ninguém vai ao Pai senão por ele-, quando realizou as suas curas, está lá na Bíblia, em duas (quando curou o aleijado: utilizou uma piscina; quando curou a mulher que sangrava: estava vestido), ele precisou ter um mínimo de condições, além da sua fé e amor!
Se o Governo Federal quer mesmo resolver o problema da saúde deste país, que pare de “brincar” de balança comercial. Que vá ao cerne da questão: EDUQUE A POPULAÇÃO! Pois só uma população educada e livre é capaz de saber o que é melhor para si... Uma população educada e livre saberia que jogar lixo nas ruas é igual a aumentar os índices de dengue... E o interessante é que o próprio Ministério da Saúde, quando faz a sua apresentação sobre Rede de Atenção às Urgências, está lá no centro do slide: “SE BEBER, NÃO DIRIJA!”, ou seja, não adianta só construir UPA’s, Hospitais, Unidades Básicas de Saúde, etc. etc. se isso não estiver atrelado à educação da nossa população. Aliás, acho até que o Ministro da Educação, se não acumu lasse as duas funções, que pelo menos eles trabalhassem na mesma sala, pois saúde e educação são irmãos siameses!
Uma população educada e livre (sem muletas de bolsas disso e de vales daquilo) saberia que antes de importar médicos estrangeiros, primeiro faríamos as exportações... EXPORTAÇÃO de ladrões que a cada dia, nas tenebrosas transações, diminuem não só o patrimônio de toda uma nação, mas destroem os nossos sonhos, matam as nossas esperanças e acabam com o nosso futuro; EXPORTAÇÃO de prefeitos, que bastam se sentirem “ameaçados” pelos médicos, os expulsam do seu município, deixando a população sem nenhuma assistência; EXPORTAÇÃO de cegos, que condenam pobres e absolvem ricos de colarinho branco (porém, encardido de rapinagem); EXPORTAÇÃO de empresários corruptos, que entram no jogo do superfaturamento de obras, por terem que dar “mesadas e me nsalões” aos parasitas e vermes da nação; e EXPORTAÇÃO de eleitores, que por um chinelo, por uma dentadura, por uma feirinha, vendem a sua consciência (nem sei se eles têm consciência) e mantêm todo esse processo de podridão, ano após ano...
O Brasil tem jeito! Mas, enquanto a sua balança comercial não estiver equilibrada (menos importação e mais exportação), e isso não for levado a sério, não haverá superávit, e qualquer tentativa de melhorar alguma coisa nesse país, inclusive a saúde, será igual ao homem que morava em frente ao rio... inútil, inútil!
Tão inútil, como retirar o sofá da sala, para não ser traído...
Francisco Edilson Leite Pinto Junior – Professor, médico e escritor.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Regra (de) Três - por Edilson Pinto Junior


Regra (de) Três
Não se espante, caro leitor, mas, na época do colégio Salesiano, uma das matérias que eu mais gostava era matemática! Com certeza, a explicação para essa preferência foi a presença de mestres excepcionais, como Augusto e Helder. Gostava tanto dos números, que a minha primeira experiência, como professor, foi ensinando regra de três, cálculo do “x” da questão, etc. etc. para os meus colegas de turma. Isso mesmo: ensinava e aprendia ao mesmo tempo! Guimarães Rosa foi esperto ao perceber que professor é aquele de repente, aprende...
Sim! Não se espante mais uma vez pelo fato de eu ter escolhido medicina ao invés de engenharia...  Ora, até os filósofos gostam de matemática: “Só poderá entrar quem for um geômetra!”, não eram os dizeres da placa, na entrada da escola de Atenas?!  Pois é, para os gregos, Deus era um matemático! Por isso, Einstein acertou ao afirmar que Ele não joga dados...
Pois bem! Mesmo gostando de matemática, tem um cálculo que eu não consigo fazer... Já procurei a resposta de várias maneiras, mas não consigo chegar a nenhum resultado. Qual o cálculo?! Quer saber, mesmo?! É simples, mas é complexo: quantas vezes devemos perdoar?! Cristo até tentou dizer a resposta: 70 x 7! No entanto, quando estava no momento da sua morte, entre o ingrato e o ladrão, olhando para esse último, ele disse: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso!”.
Veja que ele não disse: “hoje, vocês estarão comigo no paraíso”. O verbo ficou mesmo no singular. O ladrão, Cristo perdoou, mas o ingrato... Oh! Coisa difícil é perdoá-lo! Por que a ingratidão é sem dúvida o pior de todos os pecados. Shakespeare abominava tanto a ingratidão que ele não se cansava de dizer: “Não é um ano, nem em dois, que se conhece um homem. Tudo que eles são é estômago, e nós não passamos de comida. Eles nos comem com sofreguidão e, quando se sentem empanturrados, eles nos arrotam!”.
Padre Antônio Vieira colocava esse defeito de caráter como uma das armas mais poderosas para destruir o amor; maior até do que o tempo e a distância.
Portanto, não se espante, caro leitor, com a “Regra três” de Vinícius de Morais: “Tantas você fez, que ela cansou, por que você rapaz, abusou da regra três, onde menos vale mais... Da primeira vez ela chorou mas resolveu ficar/ É que momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar. Depois perdeu a esperança/ por que o PERDÃO também CANSA de perdoar!”.
E perder a esperança, meu caro, significa: acabou! Afinal, a fila tem que andar, não é mesmo? Até porque, muitas vezes, querendo ressuscitar uma convivência que já morreu há anos, estamos esquecendo, perigosamente, a grande lição de Zeus ao seu neto Asclépio: “Ressuscitar mortos não é coisa para os médicos. A ciência tem limites! Ressuscitar mortos é coisa dos deuses!”. E eu acho que somente Ele, e ninguém mais do que Ele, para perdoar eternamente!
Nós, mortais de carne e osso, com um coração que sangra a cada ingratidão, indiferença, humilhação, etc. etc. é impossível não cansar, ao chegar ao número cabalístico de setenta vezes sete... Na verdade, nossa vontade, além de não perdoar, é de revidar a cada agressão, a cada ingratidão... Gostaríamos até de nos tornarmos também porcos-espinhos e ferir com a mesma moeda o ingrato. Mas como um pinto (Edilson Pinto) poderá virar um porco?! Ainda mais um porco-espinho?! Será que torcendo pelo time do Palestra Itália, o Palmeiras, conseguirei?!
Não! Estou fora! Transformar o meu coração em pedra?! Jamais! E porco espinho não combina comigo. Até por que, sei muito bem o que Nietzsche quis dizer quando nos alertou: “Aquele que luta com monstros deveria tomar cuidado para não se tornar um deles!”. O melhor é aceitar tudo calado. O silêncio é o melhor remédio. Só não sei se o silêncio seria um perdão... Dizem que quem cala consente! Mas, também, do que adiantaria o meu perdão, se você nunca conseguirá perdoar o que você fez a si mesmo?
P.S. Dedico este artigo ao colega médico Henrique Santos, afinal foi ele que deu o mote: “Amigo, escreva pensando na bossa nova!”.

Francisco Edilson Leite Pinto Junior– professor, médico e escritor.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

TIPO DE MULHER

 

Existe um tipo de mulher que gosta de futebol.
Essa você leva ao cinema, ela dorme, nem sabe qual foi o filme.
Outro tipo gosta (muito) de beber. Você, sem saber, chama para igreja.
Existe um tipo de mulher que gosta de viajar. Para ficar no hotel.
Você quer sair, conhecer.
Ela aceita sair. Para bater fotos, o máximo possível, não interessa do que seja.
Outro tipo gosta de museu. Não existe mais, eu estou citando só pela lembrança.
Mesmo assim, você gosta, e ela chantageia dizendo que para compensar, irão ao shopping.
Tem um tipo de mulher que adora dançar. Aí, esta você leva para o futebol.
Outro tipo é crente, não bebe (dizem). Você leva para o bar.
Tem um tipo de mulher que gosta de ler, é caseira. Você chama para dançar e beber.
Existe uma mulher que gosta de dançar, sair, beber, fumar, futebol, viajar (sem museus), e você não sei o porquê, prefere ficar em casa.
Tem um tipo de mulher que trai. Você é fiel a ela.
Tem um tipo que é fiel a você. Você não quer.
Existe, acredite, um tipo de mulher que gosta de homem. Um dia você vai ver.
Outro tipo que não é interesseira. Você infelizmente passou longe desta.
Tem um tipo que gosta de restaurantes refinados. Você chama para um churrasquinho.
Um tipo intelectual, rica, gosta de MPB, gosta de Cinema. Mas não gosta de homem.
Existe um tipo de mulher que ama você. Você não sabe ainda.
Existe um tipo de mulher que nunca, mas nunca mesmo, gostou sequer de você. Você diz que ela te ama.
Tem um tipo que gosta de mulher. Sim, existe. Você já teve uma.
Existe um tipo de mulher, que você faz tudo por ela. Tudo. Ela não te ama.
Outro tipo, você só usou. Ela corre atrás até hoje.
Tem um tipo de mulher que quer casar. Mas não é com você.
Existe um tipo de mulher linda, muito bonita, a mais bela, e que ama você...Ah.. é mentira minha.
Mas, não desanime. Olhe, tem um tipo de mulher que ama tudo que você faz. Sua mãe.
Gustavo Xavier é psiquiatra 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

De Drummond




Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.


Passou quando, nossa mãe?
Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.

Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós,

se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou.

Chorou no prato de carne,
bebeu, gritou, me bateu,

me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou,

dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo,
lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse,
a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência
e fosse dormir com ele...

Nossa mãe, por que chorais?
Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio. Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,

só para lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.

Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda,
de colo mui devassado,

mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei... disse que sim.

Saí pensando na morte,
mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio,

visitei vossos parentes,
não comia, não falava,

tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,

perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.

Vosso pai sumiu no mundo.
O mundo é grande e pequeno.

Um dia a dona soberba
me aparece já sem nada,

pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido,

última peça de luxo
que guardei como lembrança

daquele dia de cobra,
da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.

Mas então ele enjoado
confessou que só gostava

de mim como eu era dantes.
Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,

me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina,
rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito

de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho
e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia.
Olhou para mim em silêncio,

mal reparou no vestido
e disse apenas: Mulher,

põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,

comia meio de lado
e nem estava mais velho.

O barulho da comida
na boca, me acalentava,

me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito

de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.


(Caso do Vestido - A Rosa do Povo)