segunda-feira, 28 de março de 2011

AMOR FATI, por Edilson Pinto

Pessoal, segue mais um artigo do professor Edilson, devidamente autorizado!

Amor fati


Aquilo que se faz por amor, está sempre além do bem e do mal.
(Nietzsche)


Meu caro amigo,

“Mas é claro que o sol/ vai voltar amanhã. Mais uma vez, eu sei... escuridão já vi pior/ de endoidecer gente sã; Espera que o sol já vem...”. O problema é este, caro amigo, somos por demais agoniados, impacientes e imediatistas: queremos resolver o problema de séculos em questão de segundos. Mas não se esqueça do que nos ensinou o grande Guimarães Rosa: “Moço, Deus é paciência! O contrário é o diabo”.

Bem... é verdade que o diabo não existe, eu sei. O que existe é “homem humano”. “Homem humano” que machuca os outros; “homem humano” que está do mesmo lado que você, mas deveria está do lado de lá...

Ah! Meu caro amigo, como tem gente enganando a gente: veja a nossa vida como está!... Veja a classe médica, sujeita à “pró-ratas” da vida; sujeita a trabalhar em condições desumanas, aviltantes e insalubres; sujeita a salários ridículos; sujeita a processos de todos os lados; sujeita, portanto, a todos os males... e quem deveria defender a gente, na verdade, está defendendo são os seus interesses pessoais... E aí, meu caro amigo, elas não medem esforços para nos usarem como trampolins, afinal o que vale é o poder, o que vale é o pódio: é estar sempre por cima. Amizade, lealdade, respeito ao passado, tudo isso é relegado ao lixo. O que vale é ganhar, sem se importar como... “Os fins j ustificam os meios”...

Portanto, se você quiser alguém em quem confiar: confie em si mesmo! Confie que a retidão moral, a ética, a vida reflexiva, etc. etc. não são coisas menores, como nos querem fazer acreditar aqueles que gostam de levar vantagem em tudo. Não! Esses princípios que aprendemos em casa - no nosso berço-, são eles que devem ser os nossos referenciais. São eles que nos conduzem a felicidade.

Meu caro amigo, o poeta William Blake tem um poema que começa assim: “Uma marca encontro em cada rosto,/ Marcas de fragilidade, marcas de desgosto...”. Então, basta olhar para essas pessoas que não sabem amar, que não sabem o verdadeiro valor da amizade, que não compreendem o que você, certa vez me disse: “Amigo, nada nesta vida, absolutamente nada, nem dinheiro, nem status, nem posição social ou bens suplantam a importância de uma verdadeira amizade”... Olhe para elas! Veja os seus semblantes. Veja a máscara que usam para enganar: que estão de bem com a vida... só que ninguém consegue enganar a si mesmo... elas são tão infelizes. Infelizes, po r não saberem amar...

Desistir?! Jamais! “Isto não faz parte do nosso vocabulário”, me ensinou, recentemente, o mestre-amigo Gilmar Amorim: “Nós, Cristãos, não podemos desistir nunca!”. Afinal, é claro que sol vai voltar amanhã... é claro que um dia, a classe médica acordará desse marasmo - dessa dependência de falsos líderes-, e saberá lutar pelos seus direitos, resgatando e defendendo, com unhas e dentes, a dignidade da nossa profissão.

Eu sei que um dia a gente aprende... Mas, enquanto isso não acontecer, meu caro amigo, deveremos continuar a nossa missão de semeadores. Educar os jovens. Os alunos. São neles em quem deveremos apostar na mudança.

Além disso, deveremos continuar a amar. Amar até mesmo a falta de amor, como diz Drummond. Amar até mesmo essas pessoas que estão nos enganando, afinal, elas nos dão a maior lição: o contra-exemplo. Como não deveremos nos portar; como não deveremos agir.

Por fim, deixo as sábias palavras de Nietzsche, para a sua reflexão: “Amor fati: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que a minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!”...

Sim! Ao sonho que vale a pena lutar, pois quem acredita sempre alcança...


Francisco Edilson Leite Pinto Junior
Professor, médico e escritor

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