domingo, 10 de junho de 2012

O TEMPO DE HOJE E O TEMPO DE ONTEM



Mudança de tempo, de clima, sempre existiu. Chuva, seca, frio, enchente, estiagem braba. Já estou acostumado. Mas nos tempos de hoje, nos assuntos românticos, as coisas mudaram e eu ainda não me acostumei.

Mandar flores pra mulher, agora só em velório. Saber poesia virou coisa de viado e conhecer História nem pensar. Ligar pro telefone todo dia, que era atitude atenciosa, hoje é pegajosidade. Se conhecer hoje e ligar amanhã, já era. Telefone não se pede, o contato é pelo face (no máximo, um “o seu é TIM?”). Chamar pra jantar, babaquice, coisa de gordinho. Cinema tem que ser comédia romântica, nacional, sem legenda ou qualquer besteirol 3D. Ficar juntinho em dia de chuva é morgação.

Mulher que não bebe virou chata, quem sabe até frígida. Tomar todas é curtição, gritar em público é engraçado e logo vira uma resenha. O mal-educado agora é um cara expansivo e se for bonito, carismático. Roupa de puta é moda, vestido é coisa de véia, tatuagem item obrigatório. Beber cana, tequila, na boca da garrafa, negócio de mulher. Passar chifre é democrático, isso nem se discute mais.

Decorar refrão do Aviões é de quem entende de música e cantarolar Cartola soa depressão. Som alto em bar pequeno, sinal de canto bombado e lugar de qualidade, restaurante que vai fechar logo. Fila grande em frente de boate (que agora é imitação de pub) virou chamativo, e encontrar mesa é uma missão impossível. Garçom se conhece pelo nome e a paquera, nem se lembra do rosto. 

Se você for inteligente não conta mais ponto. Se seu carro tiver muitos cavalos, sim. E se você for um cavalo mesmo, melhor ainda. Rapariga agora é uma coitadinha que sofreu abuso na infância, e bandido virou partidão. 

Antes, mulher queria abraço, depois beijo, depois sarro, depois quem sabe mais sarro, e depois sexo. Hoje a mulher quer Tchu, quer Tcha, e depois Tchau.

No meu tempo, que não é tão distante, o primeiro ficar era o primeiro dia do namoro. Hoje é o único. Namoro era pra casar, pra depois ter filhos, pra depois separar, se acontecesse uma coisa muito séria. Atualmente, namoro é uma coisa muito séria, só se tiver filhos, e então quem sabe, pensar em casar. No fim das contas, o casal é unânime: “Você não vale nada, mas eu gosto de você”.


Gustavo Xavier é Psiquiatra e gosta de tempo chuvoso.

5 comentários:

  1. Ainda bem que ainda existem pessoas que pensam assim, e que não tem nenhum pudor em demostrar, escrever, expor o que na realidade é o lado bom e prazeroso da vida... Pena que poucos não sabem bem o que é, e nem saberiam viver isso... pobre geração...
    Beta Queiroz

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  2. Obrigado pelas palavras Beta. É difícil essa geração que não é nem tão distante assim da minha, não valorizar as coisas mais importantes da vidas. Mas, sempre existirá a luz. Beijo. Gustavo

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  3. Tudo que foi dito por vc é infelizmente a pura verdade,
    mas, ainda existem mulheres q/ valorizam homens q/ mandam flores, q/ as convide p/ um cinema,
    q/ gostam de ficar juntinhos em dia chuvoso,
    pobre desses rapazes bombados, a bomba, um dia acaba, e acaba com eles.
    Dou valor a quem ainda tão jovem pensa dessa forma q/ é a correta.Parabéns!

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