Mudança de tempo, de clima, sempre existiu. Chuva, seca,
frio, enchente, estiagem braba. Já estou acostumado. Mas nos tempos de hoje,
nos assuntos românticos, as coisas mudaram e eu ainda não me acostumei.
Mandar flores pra mulher, agora só em velório. Saber poesia
virou coisa de viado e conhecer História nem pensar. Ligar pro telefone todo
dia, que era atitude atenciosa, hoje é pegajosidade. Se conhecer hoje e ligar
amanhã, já era. Telefone não se pede, o contato é pelo face (no máximo, um “o seu é TIM?”). Chamar pra jantar, babaquice,
coisa de gordinho. Cinema tem que ser comédia romântica, nacional, sem legenda
ou qualquer besteirol 3D. Ficar juntinho em dia de chuva é morgação.
Mulher que não bebe virou chata, quem sabe até frígida. Tomar
todas é curtição, gritar em público é engraçado e logo vira uma resenha. O
mal-educado agora é um cara expansivo
e se for bonito, carismático. Roupa de puta é moda, vestido é coisa de véia,
tatuagem item obrigatório. Beber cana, tequila, na boca da garrafa, negócio de
mulher. Passar chifre é democrático, isso nem se discute mais.
Decorar refrão do Aviões
é de quem entende de música e cantarolar Cartola soa depressão. Som alto em bar
pequeno, sinal de canto bombado e
lugar de qualidade, restaurante que vai fechar logo. Fila grande em frente de
boate (que agora é imitação de pub) virou
chamativo, e encontrar mesa é uma missão impossível. Garçom se conhece pelo
nome e a paquera, nem se lembra do rosto.
Se você for inteligente não conta mais ponto. Se seu carro
tiver muitos cavalos, sim. E se você for um cavalo mesmo, melhor ainda. Rapariga
agora é uma coitadinha que sofreu abuso na infância, e bandido virou partidão.
Antes, mulher queria abraço, depois beijo, depois sarro,
depois quem sabe mais sarro, e depois sexo. Hoje a mulher quer Tchu, quer Tcha, e depois Tchau.
No meu tempo, que não é tão distante, o primeiro ficar era o primeiro dia do namoro. Hoje
é o único. Namoro era pra casar, pra depois ter filhos, pra depois separar, se
acontecesse uma coisa muito séria. Atualmente, namoro é uma coisa muito
séria, só se tiver filhos, e então quem sabe, pensar em casar. No fim das
contas, o casal é unânime: “Você não vale nada, mas eu gosto de você”.
Gustavo Xavier é Psiquiatra
e gosta de tempo chuvoso.
Excelente texto, Gustavo!
ResponderExcluirParabéns!
Obrigado Wilson. O blog vive!
ResponderExcluirAinda bem que ainda existem pessoas que pensam assim, e que não tem nenhum pudor em demostrar, escrever, expor o que na realidade é o lado bom e prazeroso da vida... Pena que poucos não sabem bem o que é, e nem saberiam viver isso... pobre geração...
ResponderExcluirBeta Queiroz
Obrigado pelas palavras Beta. É difícil essa geração que não é nem tão distante assim da minha, não valorizar as coisas mais importantes da vidas. Mas, sempre existirá a luz. Beijo. Gustavo
ResponderExcluirTudo que foi dito por vc é infelizmente a pura verdade,
ResponderExcluirmas, ainda existem mulheres q/ valorizam homens q/ mandam flores, q/ as convide p/ um cinema,
q/ gostam de ficar juntinhos em dia chuvoso,
pobre desses rapazes bombados, a bomba, um dia acaba, e acaba com eles.
Dou valor a quem ainda tão jovem pensa dessa forma q/ é a correta.Parabéns!