sexta-feira, 19 de março de 2010

O MAIS NOVO MEMBRO DO CCRM

Foi batizado no aniversário de Aline.
Danado foi consolar o pai da garotinha que não se conformava e chorava copiosamente!

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Grande Erro a Respeito da Próstata - Por Chagas Gomes

A cada ano, cerca de 30 milhões de homens americanos são submetidos ao exame laboratorial para o antígeno prostático específico, uma enzima produzida pela próstata. Aprovado pelo FDA em 1994, o exame de PSA é o recurso mais comumente usado para detectar o câncer de próstata.


A popularidade do exame levou a um desastre extremamente caro de saúde pública. Esta é uma questão com a qual estou dolorosamente familiarizado - descobri o PSA em 1970. No momento em que o Congresso busca encontrar alternativas para cortar os custos de nosso sistema de saúde, é importante dizer que uma significativa poupança poderia resultar da mudança do uso deste antígeno para a triagem do câncer de próstata.
Os americanos gastam uma quantidade enorme de dinheiro realizando o exame de câncer de próstata. O gasto anual para o rastreio pelo PSA é de pelo menos 3 bilhões de dólares, sendo a maior parte coberta pelo Medicare e pela Repartição dos Veteranos.

O câncer de próstata tem grande cobertura pela imprensa, mas os números seguintes devem ser levados em consideração: os homens americanos têm 16 por cento de possibilidade de receber um diagnóstico de câncer de próstata ao longo de sua vida, mas apenas 3 por cento de risco de morrer da doença. Isso porque a maioria dos cânceres de próstata cresce lentamente. Em outras palavras, os homens que têm a sorte de chegar à velhice mais provavelmente morrerão com câncer de próstata do que dele.

Ademais, o exame é tão eficaz quanto jogar uma moeda para sorteio. Por muitos anos, tenho procurado deixar claro que o PSA não pode detectar o câncer de próstata e, mais importante, não pode distinguir entre dois tipos de câncer de próstata - aquele que vai lhe matar e aquele que não vai.

Em vez disso, o exame revela simplesmente a quantidade de antígeno prostático que um homem tem em seu sangue. Infecções, drogas de livre comercialização como o ibuprofeno e a inflamação benigna da próstata podem elevar os níveis de PSA de um homem, mas nenhum destes fatores é sinal de câncer. Homens com baixos níveis do antígeno podem, não obstante, abrigar cânceres perigosos, enquanto outros homens, com níveis altos, podem estar completamente saudáveis.

Ao aprovar o procedimento, o FDA estava se baseando num estudo que mostrou que o exame poderia detectar 3,8 % dos cânceres da próstata, uma taxa melhor do que a resultante do método padrão, o exame de toque retal.

Ainda assim, 3,8% é um valor reduzido. No entanto, especialmente no período inicial da aplicação da triagem, os homens com resultado de quatro nanogramas por mililitro eram enviados para dolorosas biópsias de próstata. Se a biópsia mostrava qualquer sinal de câncer, o paciente era quase sempre encaminhado para cirurgia, radioterapia ou outros danosos tratamentos intensivos.

A comunidade médica está lentamente se voltando contra a triagem pelo PSA. No ano passado, o The New England Journal of Medicine publicou os resultados dos dois maiores estudos sobre o processo de triagem, um na Europa e outro nos Estados Unidos. Os resultados do estudo americano mostram que durante um período de 7 a 10 anos, a triagem não reduziu a taxa de mortalidade em homens com 55 anos e mais.

O estudo europeu mostrou um ligeiro declínio nas taxas de mortalidade, mas também constatou que 48 homens precisavam ser tratados para que uma única vida fosse salva. Isto significa que 47 homens, com toda a probabilidade, ficaram sexualmente impotentes ou não mais podem ficar longe do banheiro por muito tempo.

Numerosos anteriores defensores do exame, incluindo Thomas Stamey, um conhecido urologista da Universidade de Stanford, pronunciaram-se contra os exames de rotina; no mês passado, a Sociedade Americana de Câncer pediu mais cautela no uso do exame. O Colégio Americano de Medicina Preventiva concluiu também que não havia provas suficientes para recomendar exames de rotina.

Então, por que ainda é usado? Porque as empresas farmacêuticas continuam vendendo os exames e os grupos de pressão que promovem a “conscientização sobre o câncer de próstata" incentivam os homens a fazer os exames. Vergonhosamente, a Associação Americana de Urologia ainda recomenda a triagem, enquanto o Instituto Nacional do Câncer é ambíguo sobre o assunto, afirmando que a evidência não é clara.

O painel federal com poderes para avaliar os exames de triagem para o câncer, o Comitê de Serviços Preventivos, recentemente recomendou ser contra a triagem de PSA para homens com 75 anos ou mais. Mas o grupo ainda não fez qualquer recomendação para os homens mais jovens.

O exame do antígeno prostático específico ainda tem uma indicação adequada. Após o tratamento do câncer de próstata, por exemplo, a sua rápida elevação indica retorno da doença. E os homens com histórico familiar de câncer de próstata provavelmente devem passar pelo exame regularmente. Se sua pontuação começar a subir, isto poderia significar câncer.

Mas esses usos são limitados. O exame absolutamente não deve ser aplicado a toda a população de homens com idade superior a 50, pois só interessa àqueles que têm a lucrar com isto.

Eu jamais imaginei que minha descoberta de quatro décadas atrás levaria a tal desastre de saúde pública em função de lucro. A comunidade médica tem de enfrentar a realidade e interromper o uso inadequado da triagem pelo PSA. Fazer isso economizaria bilhões de dólares e salvaria milhões de homens em relação a tratamentos desnecessários e invalidantes.


Richard J. Ablin é professor e pesquisador de imunobiologia e patologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Arizona e presidente da Fundação Robert Benjamin Ablin para Pesquisa do Câncer.

(Publicado no The New York Times, edição de 10 de março de 2010, traduzido por Roberto Passos Nogueira - presidente do Cebes)

quinta-feira, 4 de março de 2010

CONGRESSO DOS VENTOS - Joaquim Cardozo (1897 - 1978)

Estimados, deixo pra vocês, uma das poesias brasileiras mais bonitas, escrita por Joaquim Cardozo, este pernambucano que ajudou na construção de Brasília, através dos seus cálculos matemáticos. Aproveito pra homenagear Brasília,nossa capital, e minha cidade, Natal, uma cidade dos ventos.

CONGRESSO DOS VENTOS

Na várzea extensa do Capibaribe, em pleno mês de agosto
Reuniram-se em congresso todos os ventos do mundo;
Àquela planície clara, feita de luz aberta na luz e de amplidão cingida,
Onde o grande céu se encurva sobre verdes e verdes, sobre lentos telhados,
Chegaram os mais famosos, os mais ilustres ventos da Terra:
– Mistral, com seus cabelos de agulha, e os seus frios de dedos finos,
– Simum, com arrepiadas, severas e longas barbas de areia quente,
– Harmatã, em fúrias gloriosas e torvelinhos, trazidos da Costa da Guiné,
Representante das margens do Nilo credenciou-se Cansim,
E Garbino, enviado das praias catalãs.
Vieram as Monções das margens do Oceano Índico,
Os ventos da Tundra siberiana vieram. . .
E os Alísios desceram do Equador, clandestinos,
Num grande transatlântico.
Chegaram ainda os ventos da América:
– Barinez, respirando doçuras de rios azuis, afluentes do Orenoco,
– Pampeiro, eremita e solidão de horizontes sub-andinos,
– Minuano, assobiando longamente a tristeza ritmada das coxilhas..
Também os ventos nordestinos se acharam presentes:
O Nordeste e o Sudeste; os ventos Banzeiros,
O Aracati das praias cearenses,
O vento Terral, velho boêmio das madrugadas.
Ventos, muitos e todos, ventos de todos os desertos,
De tempestades selvagens, de escuramente outonos. . .
Nesse congresso em tantas veemências se afirmaram
Quanto em glória e rebeldia se exprimiram. . .
Com açoites e eloqüentes rajadas falou Harmatã;
Com citações de Esopo e de La Fontaine
Comparou as vantagens da energia do sol e a do vento,
Descreveu com minúcia os modernos fornos solares
E admitiu o emprego futuro de ventos magnéticos.
Depois que Cansim relembrou o seu feito guerreiro
Envolvendo em altas nuvens de areia as legiões do rei Cambises
– Isto, há mais de dois mil anos –
Garbino repetiu com sopros noturnos e vagarosos
A velha história do abandono e desprezo dos ventos
Agora, solitários, vagando por todos os quadrantes.
A assembléia inteira levantou-se amotinada;
Um vendaval sem freio, um furacão,
Percorreu aquelas instâncias de planície tranqüila;
Uma onda de revolta se ergueu contra os motores,
Contra os ventiladores e os túneis de vento.
Mas apesar daquele tumultuoso debater de línguas meteóricas
Podia-se ouvir muito bem a voz lamentosa do Nordeste:
– Eu que, há trezentos anos, desembarquei das velas do almirante Loncq
Na praia de Pau Amarelo,
Que tremulei nas flâmulas e nas bandeiras das naus de D. Antônio de Oquendo
Aqui estou, nesta várzea, reduzido a professor de meninos:
Hoje vivo ensinando a empinar papagaios. . .
Voltando a calma, em alentos de aragens murmuradas,
Terral contou como ajudava as plantas nos amores:
– Levando nas dobras do seu manto o pólen das anteras,
Velivolvendo e suspirando entre ramagens.
Por fim, sucederam-se festas, danças de roda. . .
Músicas e cantos de longes mares tempestuosos,
Rodopios, volteios, caprichos, remoinhos, piões e parafusos. . .
– Com sestros de capoeira exibiram-se o vento Banzeiro e o Sulão.
Barinez leu uma mensagem de Romulo Gallegos,
Minuano disse um poema de Augusto Meyer.
E já pelos dias finais daquele mês todos partiram. . .
Erguendo o seu vôo sobre as nuvens varzinas
Regressaram, um após outro,
Para as noites e as tormentas das suas terras natais.
O último que se pôs a caminho foi o vento Aracati:
– Cortou uns talos de chuva
Com eles fez uma flauta
E se foi, tocando e dançando,
E se foi pela estrada de Goiana.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A PRIMEIRA DAMA DE NATAL (José Correia Torres Neto)




Natal, década de 40 - A cidade fervilhava de militares americanos e brasileiros. Aviões, hidroaviões, Catalinas e Jeeps patrulhavam a vida dos natalenses. Instalava-se na cidade, a paraibana de Campina Grande, Maria de Oliveira Barros (24/06/1920 - 22/07/1997). Começava neste ínterim a história da mais conhecida casa de tolerância do estado (do país ou do mundo?).

Entre as movimentações na Ribeira, nas pedidas de Cuba Libre no saguão do Grande Hotel, nas notícias pelas Bocas de Ferro, na Marmita, em Getúlio e em Roosevelt e na nova geração de meio americanos e meio brasileiros, lá estava Maria Barros, enaltecendo-se na Cidade do Natal como a proprietária do melhor (ou maior) cabaré.

Tornou-se conhecida como Maria Boa. Mesmo com pouco estudo ela despertou o gosto por música, cinema e leitura. O seu "estabelecimento" era o refúgio aos homens da cidade, com residência fixa ou, simplesmente, por passagem por Natal e servia de referência geográfica na cidade.

Jovens, militares e figurões acolhiam-se envoltos as carnes mornas das meninas de Maria Boa. Muitas mães de família tiveram que amargar, em silêncio, a presença de Maria Boa no imaginário de seus maridos em uma época de evidente repressão sexual.

Vários fatos envolveram a personagem. Um episódio muito comentado foi a pintura realizada pelos militares em um avião B-25. Dos mais famosos aviões da 2a Guerra Mundial, os B-25 eram identificados com cores características de cada Base Aérea. Os anéis de velocidade das máquinas voadoras da Base Aérea de Salvador eram pintados com a cor verde. Os aviões de Recife, com a cor vermelha, e os de Fortaleza, com a cor azul. Para a Base de Natal foi convencionada a cor amarela. Os responsáveis pela manutenção dos aviões em Natal imaginaram também que deviam ser pintados no nariz do avião, ao lado esquerdo da fuselagem e junto ao número de matricula, desenhos artísticos de mulheres em trajes de praia. Autorizada pelo Parque de Aeronáutica de São Paulo, a idéia foi colocada em prática. Pouco tempo depois, os B-25 de Natal surgiram na pista com caricaturas femininas e alguns até com nomes de mulheres.

Alguns militares da Base escolheram o B-25 (5079), cujo desenho se aproximava mais da imagem de Maria Barros. Outras aeronaves também receberam nomes como "Amigo da Onça" e "Nega Maluca".

Quem custou a acreditar neste fato foi a própria Maria. Até que alguns tenentes decidiram levá-la até à linha de estacionamento dos B-25 logo após o jantar para não despertar a atenção dos curiosos. Ela constatou o fato. As lágrimas verteram de seus olhos quando viu à sua frente, pintada ao lado do número 5079, a inscrição "Maria Boa".

O mito "Maria Boa" rendeu trabalhos acadêmicos o de Maria de Fátima de Souza, intitulado: "A época áurea de Maria Boa (Natal-RN 1999)". O trabalho aborda o "fenômeno da prostituição infanto/juvenil, suas conseqüências e causas no desenvolvimento físico e psicossocial de crianças e adolescentes (...). Com o aprofundamento dos estudos percebemos o importante papel dos bordéis na prostituição, bem como o fechamento dos mesmos (...). Chegamos então ao cabaré de Maria Boa, já fechado. Tivemos, assim, a oportunidade de conhecer um pouco da saga da Sra. Maria de Oliveira Barros, uma profissional do sexo, com grande importância na história da prostituição de adultos, ou ainda, tradicional; das histórias contadas a seu respeito chamou-nos atenção para sua representação social, seu "mito" e sua ligação com o imaginário masculino. Com isso, passamos a averiguar mais profundamente uma participação na sociedade da época e buscamos reconstruir parte de sua história enquanto meretriz, cafetina, e proprietária da mais famosa casa de prostituição que o RN já conheceu."

O Professor Márcio de Lima Dantas publicou2002 o texto "Retratos de silêncio de Maria Boa". "(...) Para além da atitude ética de proteger sua família, o que faz parecer um jogo com a hipocrisia da sociedade, penso que, na atitude de se manter reservada, se inscreve outro aspecto digno de ser ressaltado. Falo do mito que entorna a personagem Maria Boa, de certa maneira, criada e ritualizada por ela mesma, dimensão de fantasia para além do empírico vivenciado. (...) Astuciosamente se fez conhecer por "Maria", o antropônimo mais comum no universo feminino, genérico e pouco dado a divagações semióticas. Ironicamente é o nome da mãe de Jesus... Quem não tinha conhecimento no Estado de uma proprietária de um requintado lupanar, e que se chamava Maria, a Boa. O mito, da constituição do éter, era aspirado por todos, preenchendo necessidades, ocupando lugares no espírito, imprimindo fantasias nos adolescentes, despertando em jovens mulheres às aventuras da carne, engendrando adultérios imaginários. Integrava, assim, o patrimônio individual e coletivo. (...)"

Eliade Pimentel, no artigo "E o carnaval ficou na memória" destaca a presença de Maria Barros nos carnavais de Natal: Lá pela década de 50, os desfiles passaram a acontecer na avenida Deodoro da Fonseca. Maria Boa desfilava com Antônio Farache em carros conversíveis, "

Em 2003 o cantor Valdick Soriano, quando entrevistado por Everaldo Lopes, registrou que quando esteve em Natal, pela primeira vez, cantou até para as meninas de "Maria Boa".

Maria Barros é história. Mesmo sendo paraibana é a Primeira Dama (ou anti-Dama) de Natal. Impera nas lembranças dos seus contemporâneos e se faz presentes nos prostíbulos que ainda resistem nas periferias da cidade ou travestidos de casas de "drinks" nos bairros mais nobres.

Ela é citada no filme For All - O Trampolim da Vitória (vencedor do Festival de Gramado em 1997) de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz. O filme retrata a cidade do Natal em 1943 quando a base americana de Parnamirim Field, a maior fora dos Estados Unidos, recebe 15 mil soldados, que vão se juntar aos 40 mil habitantes da cidade. Para a população local a guerra possuiu vários significados. A chegada dos militares americanos alimentou fantasias de progresso material, romance e, também o fascínio pelo cinema de Hollywood. Em meio aos constantes blecautes do treinamento antibombardeio, dos famosos bailes da base aos domingos, dos cigarros americanos, da Coca-Cola e do vestuário estavam os sonhos natalenses.

Sem questionamentos, "Maria Boa" foi uma das principais atrizes no elenco desse belicoso teatro. A Primeira Dama Maria Boa...