segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

TIPO DE MULHER

 

Existe um tipo de mulher que gosta de futebol.
Essa você leva ao cinema, ela dorme, nem sabe qual foi o filme.
Outro tipo gosta (muito) de beber. Você, sem saber, chama para igreja.
Existe um tipo de mulher que gosta de viajar. Para ficar no hotel.
Você quer sair, conhecer.
Ela aceita sair. Para bater fotos, o máximo possível, não interessa do que seja.
Outro tipo gosta de museu. Não existe mais, eu estou citando só pela lembrança.
Mesmo assim, você gosta, e ela chantageia dizendo que para compensar, irão ao shopping.
Tem um tipo de mulher que adora dançar. Aí, esta você leva para o futebol.
Outro tipo é crente, não bebe (dizem). Você leva para o bar.
Tem um tipo de mulher que gosta de ler, é caseira. Você chama para dançar e beber.
Existe uma mulher que gosta de dançar, sair, beber, fumar, futebol, viajar (sem museus), e você não sei o porquê, prefere ficar em casa.
Tem um tipo de mulher que trai. Você é fiel a ela.
Tem um tipo que é fiel a você. Você não quer.
Existe, acredite, um tipo de mulher que gosta de homem. Um dia você vai ver.
Outro tipo que não é interesseira. Você infelizmente passou longe desta.
Tem um tipo que gosta de restaurantes refinados. Você chama para um churrasquinho.
Um tipo intelectual, rica, gosta de MPB, gosta de Cinema. Mas não gosta de homem.
Existe um tipo de mulher que ama você. Você não sabe ainda.
Existe um tipo de mulher que nunca, mas nunca mesmo, gostou sequer de você. Você diz que ela te ama.
Tem um tipo que gosta de mulher. Sim, existe. Você já teve uma.
Existe um tipo de mulher, que você faz tudo por ela. Tudo. Ela não te ama.
Outro tipo, você só usou. Ela corre atrás até hoje.
Tem um tipo de mulher que quer casar. Mas não é com você.
Existe um tipo de mulher linda, muito bonita, a mais bela, e que ama você...Ah.. é mentira minha.
Mas, não desanime. Olhe, tem um tipo de mulher que ama tudo que você faz. Sua mãe.
Gustavo Xavier é psiquiatra 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

De Drummond




Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.


Passou quando, nossa mãe?
Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.

Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós,

se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou.

Chorou no prato de carne,
bebeu, gritou, me bateu,

me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou,

dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo,
lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse,
a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência
e fosse dormir com ele...

Nossa mãe, por que chorais?
Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio. Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,

só para lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.

Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda,
de colo mui devassado,

mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei... disse que sim.

Saí pensando na morte,
mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio,

visitei vossos parentes,
não comia, não falava,

tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,

perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.

Vosso pai sumiu no mundo.
O mundo é grande e pequeno.

Um dia a dona soberba
me aparece já sem nada,

pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido,

última peça de luxo
que guardei como lembrança

daquele dia de cobra,
da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.

Mas então ele enjoado
confessou que só gostava

de mim como eu era dantes.
Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,

me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina,
rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito

de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho
e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia.
Olhou para mim em silêncio,

mal reparou no vestido
e disse apenas: Mulher,

põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,

comia meio de lado
e nem estava mais velho.

O barulho da comida
na boca, me acalentava,

me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito

de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.


(Caso do Vestido - A Rosa do Povo)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Artigo do Prof Edilson Pinto - Carta ao "Patrão"


Carta ao “Patrão”
“Há tempo para tudo debaixo do sol.
Há tempo de escrever; há tempo de calar!”.

Caro “Patrão” Jornalista Carlos Santos,
Por favor, não me “demita” do seu blog. Eu sei que faz tempo que não produzo um texto. Mas, saiba que estou acobertado pela Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, que instituiu o programa de empresa cidadã, prorrogando o período de licença maternidade de 120 para 180 dias, ou seja, de quatro para seis meses.
Assim, se levarmos em conta que a minha última “gestação e trabalho de parto” foi exatamente em setembro de 2012, veja que estou dentro do prazo, perfeitamente dentro da Lei. Portanto, só em março de 2013 é que eu teria que produzir mais um filho...
Sim! Meu caro, não tenha dúvida: um texto é como um filho. Muitas vezes, passa nove meses em nossa cabeça – esse útero terrível, como nos ensina Rubem Alves-, pois “Dela tanto pode sair flores e borboletas quanto charcos e escorpiões. De vez em quando ela é invadida pelos demônios das catástrofes e dos horrores”... Outras vezes, a gestação é interrompida e o parto precoce - repleto de contrações e dores-, faz nascer à criança que estava dentro de nós.
Confesso. Admiro sim, quem consegue ter filhos, e escreve como Dipirona: de seis em seis horas. Haja coragem de pagar pensão alimentícia!... Mas não é o meu caso. Talvez por ser cirurgião e também por ser admirador de Nietzsche, só consigo valorizar aquilo que é escrito com sangue, pois sangue é espírito. Imagine, então, caro patrão, se todo dia eu escrevesse, estaria tão anêmico, que nem todas as bolsas de sangue do HEMONORTE restaurariam o meu hematócrito... E sem hemoglobina não há oxigênio; sem oxigênio, o filho é um natimorto...
 Portanto, desculpe-me o meu egoísmo. Mas, só escrevo quando tenho vontade. Quando a dor é tão intensa que nenhuma morfina é capaz de aliviá-la. Pois ter filhos, caro “patrão”, é doloroso. Escrever é estar doente dos olhos... O prazer da criação e a dor andam juntos, são irmãos gêmeos.
E, por favor, caro “patrão” não me condene pelo meu egoísmo. Até porque se só escrevo para mim é porque escrevo para todos. Como? Aprendi isso com o magnífico Orhan Pamuk, prêmio Nobel de literatura, no seu belo livro “A maleta de meu pai”: “Para mim, ser escritor é reconhecer as feridas secretas que carregamos; tão secretas que mal temos consciência delas, e explorá-las com paciência, conhecê-las melhor, iluminá-las, apoderar-no s dessas dores e feridas e transformá-las em parte consciente do nosso espírito e da nossa literatura. O escritor fala de coisas que todos sabem, mas não sabem que sabem... Se ele usa suas feridas secretas como ponto de partida, consciente disso ou não, está depositando uma grande fé na humanidade. Minha confiança vem da convicção de que todos os seres humanos são parecidos, que os outros carregam feridas como as minhas.”.
Por isso que Guimarães Rosa tem razão quando diz que cada um de nós tem um grande SERTÃO dentro de si... E é por causa desse sertão, que muitas vezes somos incompreendidos, criticados e ridicularizados, já que ninguém sabe o que se passa dentro de cada escritor, durante a sua gestação.
Então, muitas vezes, querem nos corrigir: “Retire essas reticências todas! Acabe com tantas citações, elas nos cassam!” Ora, caro patrão! Veja que todo filho tem que ser mesmo imperfeito. Se Deus quisesse a perfeição não teria feito tantos ingratos, desonestos, mentirosos, oportunistas, invejosos, sanguessugas, etc. etc. E uma raça pura, sem defeitos, não era o que Hitler preconizava?! Por isso, tenho medo da eugenia!
Além disso, caro “patrão”, é bom lembrar que todo escritor tem as suas manias. Enquanto, Faulkner só escrevia pela manhã; Hemingway escrevia de pé. Já Balzac só escrevia bebendo café; e o que dizer de Schiller que guardava na sua escrivaninha maças podres cujo cheiro o embriagava e o estimulava... Eu, arremedo de escritor, mais para “ladrão de citações”, não poderia ficar para trás.
Veja caro “patrão” – e que fique como um segredo só entre nós-, mas a minha inspiração ocorre nos momentos mais inoportunos: ou quando estou debaixo do chuveiro ou dentro do elevador, rumo a uma reunião importante. E quantas não foram às vezes que tive de interromper o banho e sair todo ensaboado do box, pegar uma caneta, papel e escrever o que a cabeça começava a parir; ou ainda ter que voltar do estacionamento do meu prédio e sentar em frente ao computador, para escrever... Acho que dentro de mim – já que somos muitos como diz o poeta Manoel de Barros: “Eu sou muitas pessoas destroçadas!”-, tem alguém que não gosta de banhos ou d e cumprir horários...
Pois bem! Depois de todas essas explicações, espero que o meu processo de “demissão” seja interrompido e que o meu espaço no seu blog (http://blogcarlossantos.com.br/) continue o mesmo. Afinal, qualquer tribunal de trabalho dará ganho de causa ao meu pleito. E eu sei que embora processos não lhe intimida, já que estás respondendo aos 9.865.489 (nove milhões oitocentos e sessenta e cinco mil quatrocentos e oitenta e nove) processos movidos contra a sua pessoa pela antiga gestão municipal de Mossoró, não seria melhor não aborrecermos a justiça com mais essa pendenga?
Até porque outro dia, logo após assistir ao filme “O terminal”, com Tom Hanks, que conta a história de um viajante que impedido de entrar no EUA, passa a viver dentro de um aeroporto, fui dormir e sonhei com uma versão jerimum caboclo: os oficiais de justiça do país de Mossoró, cansados de levarem intimação para o jornalista Carlos Santos, resolvem fazer um abaixo assinado, pedindo que você passe a morar nas dependências do fórum de justiça, pois assim economizaria o tempo deles e também as árvores da mata amazônica... A cabeça é ou não um útero?!
Ah! E não se esqueça do meu pagamento, afinal não acertamos que a sua amizade era o meu salário?! Então, venha a Natal tomar um café e colocaremos as noticias em dia, ok?
Abs, do seu empregado Edilson Pinto.

Francisco Edilson Leite Pinto Junior – Professor, médico e escritor.