quinta-feira, 23 de maio de 2013

Balança Comercial - por Edilson Pinto Junior


Balança comercial
Nós somos os homens ocos, nós somos os homens empalh ados apoiados uns aos outros, a cabeça cheia de palha. Ai de nós!” (T. S. Eliot)

            Era uma vez um homem que morava de frente para um rio. Vivia uma vida pacata e sem estresse. Até que um dia, ao acordar, e abrir a porta da sua casa, se depara com um corpo boiando. Ele entrou rapidamente no rio e salvou o homem que estava se afogando. No outro dia, ao abrir a porta da sua casa, ele se deparou com três corpos boiando: conseguiu salvar um, mas dois morreram... e assim, pelo resto de sua vida, ele passava o dia salvando e enterrando corpos. Nunca passou pela sua cabeça de ir rio acima, e pegar quem estava afogando os corpos. Esse homem por não entender nada de balança comercial (ele só pensava em importar os corpos do rio para a margem, sem se preocupar com quem exportava os mesmos para o rio), estava fazendo um trabalho sem utilidade alguma...
            Confesso: não entendo muito sobre balança comercial, mas o pouco que sei é que, quando as importações são maiores do que as exportações, isso leva a um déficit na economia. Pelo visto, não só sou eu que não entendo muito desse tema...
            O Governo Federal - assim como o homem que morava a beira do rio-, também entende muito pouco ou nada sobre balança comercial. Por isso que não me espanto com a inflação galopando a passos largos, e os passos de formiguinha dos nossos índices econômicos, onde o pífio PIB (Produto Interno Bruto: um Pibinho na verdade) é cada vez mais acanhado, a cada ano.
            Longe, mais muito longe de mim, ser contra a vinda de médicos cubanos para o nosso país, desde que seja dentro do que se determina e com um REVALIDA: sério e justo... Até porque se vierem médicos como Zaíra e Raul (excelentes profissionais tanto na ética e na técnica, quanto no humanismo, e que Fidel Castro e a sua revolução “democrática” não os quiseram em Cuba), que sejam muito bem vindos! O que se questiona aqui é que tentar resolver o problema da saúde pública desse país, apenas importando médicos estrangeiros, é de uma mediocridade que beira a estupidez.
Todo mundo está careca de saber que o médico brasileiro não fica no interior, porque lá não há a menor condição de exercer nenhum tipo de medicina. E não adianta pagar “excelentes” salários (que só são pagos nos primeiros meses de um contrato informal... cadê a carreira médica?!), pois como diz os Titãs: “A gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte... A gente não quer só dinheiro; a gente quer inteiro e não pela metade!”. E engana-se quem pensa que a medicina preventiva só é feita com conversas e chás: isso é de uma injustiça que só as mentalidades tacanhas, medíocres e estúpidas podem acreditar!
Mesmo Cristo - que é o caminho, a verdade e vida, pois ninguém vai ao Pai senão por ele-, quando realizou as suas curas, está lá na Bíblia, em duas (quando curou o aleijado: utilizou uma piscina; quando curou a mulher que sangrava: estava vestido), ele precisou ter um mínimo de condições, além da sua fé e amor!
Se o Governo Federal quer mesmo resolver o problema da saúde deste país, que pare de “brincar” de balança comercial. Que vá ao cerne da questão: EDUQUE A POPULAÇÃO! Pois só uma população educada e livre é capaz de saber o que é melhor para si... Uma população educada e livre saberia que jogar lixo nas ruas é igual a aumentar os índices de dengue... E o interessante é que o próprio Ministério da Saúde, quando faz a sua apresentação sobre Rede de Atenção às Urgências, está lá no centro do slide: “SE BEBER, NÃO DIRIJA!”, ou seja, não adianta só construir UPA’s, Hospitais, Unidades Básicas de Saúde, etc. etc. se isso não estiver atrelado à educação da nossa população. Aliás, acho até que o Ministro da Educação, se não acumu lasse as duas funções, que pelo menos eles trabalhassem na mesma sala, pois saúde e educação são irmãos siameses!
Uma população educada e livre (sem muletas de bolsas disso e de vales daquilo) saberia que antes de importar médicos estrangeiros, primeiro faríamos as exportações... EXPORTAÇÃO de ladrões que a cada dia, nas tenebrosas transações, diminuem não só o patrimônio de toda uma nação, mas destroem os nossos sonhos, matam as nossas esperanças e acabam com o nosso futuro; EXPORTAÇÃO de prefeitos, que bastam se sentirem “ameaçados” pelos médicos, os expulsam do seu município, deixando a população sem nenhuma assistência; EXPORTAÇÃO de cegos, que condenam pobres e absolvem ricos de colarinho branco (porém, encardido de rapinagem); EXPORTAÇÃO de empresários corruptos, que entram no jogo do superfaturamento de obras, por terem que dar “mesadas e me nsalões” aos parasitas e vermes da nação; e EXPORTAÇÃO de eleitores, que por um chinelo, por uma dentadura, por uma feirinha, vendem a sua consciência (nem sei se eles têm consciência) e mantêm todo esse processo de podridão, ano após ano...
O Brasil tem jeito! Mas, enquanto a sua balança comercial não estiver equilibrada (menos importação e mais exportação), e isso não for levado a sério, não haverá superávit, e qualquer tentativa de melhorar alguma coisa nesse país, inclusive a saúde, será igual ao homem que morava em frente ao rio... inútil, inútil!
Tão inútil, como retirar o sofá da sala, para não ser traído...
Francisco Edilson Leite Pinto Junior – Professor, médico e escritor.