domingo, 26 de fevereiro de 2012

Soneto de Esperança, por Wilson Cleto Filho



Soneto de Esperança
(e desculpa ao soneto)

E porque fostes tão desejado
Que por tantos caminhos sofridos
Pelo amor de teus pais construído
És milagre da vida imolado

És perfume da rosa exalado
Do mais belo jardim, mais florido
És a réstia do Sol encarnado
És um sonho latente, dormido

E ao invés de um brinquedo qualquer... Carrossel
Eu farei diferente, um presente em papel
Pra você (que nem sabe) criança

Fiz pra ti um soneto, com rimas ao léu
Poucos versos jogados pra cima, pro Céu
Um soneto chamado Esperança


 Wilson Cleto de Medeiros Filho
Pedindo perdão pela métrica,
mas quem você pensa que é
para calar, de alegria, um poeta?

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Patricia Rooney Mara: o novo sempre vem.




A mensagem da canção do compositor cearense Belchior, em Como Nossos Pais, “é você que ama o passado e que não vê, que o novo sempre vem”, reflete uma realidade nas telas do cinema. Quando não se espera mais muita coisa dos jovens talentos, um ícone nasce e arrasa qualquer atuação de velhos artitas. Aceitar isso nem sempre é fácil.



Ora, eu me refiro a gratíssima surpresa da atriz Patrícia Rooney Mara (guardem o nome que ficará em evidência). Sua atuação no filme “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres”( The Girl with the Dragon Tattto), além de render as indicações ao Globo de Ouro e Oscar deste ano, rompe a mesmice de algum tempo e coloca uma nova personagem na crista da onda, esperando as continuações.



Rooney Mara, 26 anos, então patricinha, literalmente, filha da cidade da Maçã, riquinha, herdeira dos donos do time de basquete NY Giants, tinha tudo pra dar continuidade a carreira cinematográfica de Paris Hilton, Gisele Bundchen, etc., mas não foi bem assim. O impactante surgimento faz lembrar Malcolm McDowell, que aos 28 anos fez Laranja Mecânica (1971).



Na sua estréia como protagonista, chama atenção e abre mais um capítulo na história no cinema. No filme, Rooney interpreta uma investigadora que está sob tutela do Estado, por ser uma psicopata anti-social. Um clichê de Hollywood, difícil de fugir, seu desafio cênico inicial, que é logo ultrapassado nos primeiros minutos que a atriz desponta. Sensual, bissexual, dragão tatuado, pele branquíssima, vestuário extravagante (agora cultuado nas revistas de moda mais famosas), tamanho frágil, agilidade webnáutica, a personagem Lisbeth Salander desfila na telona numa movimentação hipnótica. A atriz encontrou o tom de voz perfeito, gestual nervoso, expressões faciais incomuns, isto numa face lisinha, de uma adolescente problemática, já virando ícone de uma geração facebookiana.



A transformação corporal/visual da artista para a película é rotina no cinema. Vale lembrar Ralph Fiennes em Dragão Vermelho (2002), ou Robert de Niro em Taxi Driver (1976), aos 33 anos, com nova performance em Touro Indomável, de dar medo. O maquinista (2002) mostra um Christian Bale, aos 30 anos com 30 quilos a menos. E mais recente, a atriz/modelo Charlize Theron, então com 29 anos, ganhou o Oscar em 2004 no filme Monster, onde conseguiu algo inusitado, ficar feia e convencer como atriz. Mas a bela garota dos Giants, vai além da sul-africana Charlize, no meu modo de ver.



Rooney consegue dar vida a uma figura já manjada, a garota rebelde louca, tão abordada em outras películas, com uma combinação de cenas dramáticas fortes, tiradas de humor, tomadas de ação vibrantes e uma expressão facial desconcertante. Nos assédios de seu psiquiatra (outra caricatura costumeira nos filmes) e na cena do estupro, impressiona o expectador tirando o fôlego de qualquer um. Sensação só atingida pela atuação da opulenta Monica Bellucci em Irreversível (2002), aos 37 anos. Aliás, a nudez de Rooney é mostrada em outros momentos no filme de David Fincher - o mesmo de “A rede social” - em todos os ângulos possíveis, sem cair na apelação quase inevitável.

O quadro da personagem Lisbeth Salander é irreal e inatingível, que na linguagem monossilábica e nos momentos de afeto, dão uma dimensão mais humana de seu sofrimento. Mesmo sendo uma psicopata anti-social, não usa da linguagem sedutora para quebrar suas regras, pelo contrário, com sua inteligência muitíssimo acima do comum, memória de autista, lembra mais a esquiva de uma Síndrome de Asperger em alguns momentos. Tédio quebrado pela atuação da atriz.



O filme de Fincher, em si, é mediano e usa os clichês possíveis, adaptando o livro do escritor sueco Sieg Larsson, autor da trilogia Millennium (alguém duvida que faturará milhões e milhões?). Arrasta-se em 2 horas e meia e só vale pelo aparecimento de Rooney Mara na tela.


Talvez não se trate realmente de uma atriz do quilate da inglesa Kate Winslet (cinco indicações ao Oscar até os 30 anos, e uma estatueta depois), a melhor de sua geração, hoje com 37 anos. Mesmo assim vamos escutar muito ainda dessa jovem atriz, que não deve tirar o Oscar da veterana Meryl Streep, 62 anos, afinal, todos amam o passado.



Gustavo Xavier é psiquiatra e cinéfilo