sábado, 26 de fevereiro de 2011

O EXÉRCITO DE BRANCALEONE PAPA-JERIMUM


Estou observando os atuais acontecimentos na área de saúde mental com um olhar diferente. Vejo hoje a coisa com uma visão mais técnica, uma avaliação do comportamento das pessoas quando em grupo, quando em posse do poder, e sua contumaz necessidade de proferir verdades (muitas vezes ditas como absolutas).


Parece-me agora, que a situação está mais crítica, e segundo pensadores de mesa de bar, a expressão “nada está tão ruim, que não possa piorar”, caiu como uma luva no cenário do momento.
Fico vendo os fatos. Fecharam o Hospital-dia. Alegação que não podia de jeito nenhum funcionar ali, no ambiente do hospital psiquiátrico, a Lei de Deus e do Homem não permitia, quase uma heresia, um sacrilégio, que se continuasse, Zeus, com sua ira terrível, lançaria raios do Olimpo e mataria todos, sem precisar de eletrochoque, pois estes já viriam com eletricidade do céu mesmo.
Depois, uma cruzada contra os ambulatórios. Chamados de “fábrica de produzir doidos” por alguns estudiosos catedráticos pós-graduados, dotados de imensa inteligência e educação familiar, atuando também como professores de etiqueta.
Em seguida, foi dito também que psiquiatra, essa figura imprestável, não sabia atender urgência psiquiátrica (mesmo assim querem psiquiatra para o SAMU !?). E ainda, o de sempre: que os CAPS são polivalentes, centros dotados de atender alta complexidade, que temos uma rede de saúde muito boa, que o PSF funciona que é uma beleza, que é necessário diminuir os leitos psiquiátricos, e que a Reforma Psiquiátrica resolverá todos, todos os seus problemas. Um dobrado já escutado muitas vezes.
Mas vamos ao que (nos) interessa. Nos meses passados, o Exército de Brancaleone, teve aqui em Natal, uma versão tupiniquim, na verdade uma versão Papa-Jerimum. Numa missão quixotesca, o moinho da vez, foi a Clínica Santa Maria, tida como um monstro terrível, um manicômio. Os componentes trataram logo de discursar a respeito com alegações de fazer inveja a Cervantes. Aliás, os soldados deste grupo são figuras interessantes, e aqui que eu observo com mais calma.
O romantismo, sem dúvida, é a tutela do Exército de Brancaleone Papa-Jerimum. O que é feio é pra acabar. Pensamento simples. É assim mesmo. Muito bom seria se as doenças não existissem, que os surtos fossem com uma agitação poética, sem agressividades, que os pacientes não tivessem suas funções fisiológicas atingidas e que sua sexualidade fosse escondida. Ninguém poderia gritar, porque não pode, e em 72 horas tudo passaria, sem problemas. A perversidade também não existe. Aliás, uma pequena reflexão: O quanto é mais perverso? Assistir ruim ou não ajudar?
Será que as pessoas são realmente capazes de suportar o que é feio, ruim, aversivo, duro, cruel e desolador, como o transtorno mental é, sem tomar atitudes emocionadas e agindo com precipitação?
Talvez, alguém, na hora da marcha, não poderia ter pensado: “vamos melhorar isso, organizar este espaço, encontrar recursos, como fazemos com o programa DST/AIDS, como arranjamos pras hemodiálises, como seguramos as quimioterapias, como pagamos melhor as neurocirurgias, como compramos mais ambulâncias, mais ambulâncias, mais ambulâncias, mais ambulâ... mais ambu, mais ânsias...mais...”
Comicamente vi (lendo os jornais locais), que foi necessário fazer uma avaliação sobre o “impacto” do descredenciamento de 100 leitos, quase 15 % do total de leitos do Estado. Estavam esperando o quê? Um adormecimento dos problemas? Um estacionamento dos sintomas? Ou uma calmaria no meio da tempestade, onde o exército de Brancaleone Papa-Jerimum, iria atravessar, como Moisés fez no Mar Vermelho, aqui um Vermelho bem conhecido nosso.
Assim o levante segue, com a tropa unida, partindo não se sabe pra onde. Sempre tem um lugarzinho pra quem quiser trotar junto, ainda mais se tiver uma indicação, um parentesco, uma patente que seja. Autoridade é autoridade. Sentido! Marche!

Gustavo Xavier é médico, e com alegria, ajuda as pessoas como psiquiatra.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Resposta ao cordel do BBB

Essa, pouca gente vai enterder, pois tem um contexto que não foi postado.
De qualquer forma, lá vai.


CARO CORDELISTA

Saiba, caro cordelista
Que tenho grande admiração
Pelos versos que escreves
Mesmo com pouca educação
Mas hás de admitir
Que tu tens que engolir
Essa tal programação

Com respeito eu te digo
Sem querer-te confusão
Ainda que concorde contigo
Pois acho que tens razão
Mas só assiste quem quer
Seja menino, homem ou mulher
Qualquer canal de televisão

Esse tal Pedro Bial
De quem tantos têm falado
Do mesmo jeito que outros
É da globo empregado
Faz seu papel com maestria
E vem valendo noite e dia
Cada tostão aplicado

Ah, se todos fossem assim
Ai eu ficava calado
Pense, caro cordelista
Como seria adequado
Se ao invés de preguiça
Nossos "home" de justiça
Fosse assim tão dedicado

Não se pode exigir
De um povo que elegeu
Tanta gente sem futuro
Pra cuidar do que é seu
Ai depois cês vêm querer
Botar a culpa no BBB
Para tudo o que já aconteceu

Nosso povo já é pobre
Já tem pouca instrução
Mas veja que não é culpa
Dos programa de televisão
Pois o povo é roubado
E tem sofrido pra danado
É com essas coisas de eleição

É dinheiro na cueca
É político ladrão
Se vendendo a todo preço
Com esse tal de mensalão
Então, por favor, permita
Que o pobre sente e assita
Pelo menos à televisão

Wilson Cleto de Medeiros Filho
(Médico, Pediatra - "gostador" de cordel)