sábado, 28 de maio de 2011

Artigo do Dr Julio Cesar Cavalcanti da Rocha - postado em Casciano Vidal

QUE PAÍS É ESSE?... ARTIGO DO MÉDICO JÚLIO CÉSAR CAVALCANTI DA ROCHA

Que país é esse?…
Assim se expressava a banda Titãs através do seu inesquecível compositor e cantor, Renato Russo, já falecido, nos dois lustros finais da década de 1.980, ainda no século passado:

Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?

Antônio Gonçalves Dias, considerado por José de Alencar como “o poeta nacional por excelência”, filho espúrio de um português de Trás-os-Montes com uma cafuza do Maranhão, motivo de muito orgulho para o poeta, pois trazia o sangue dos três grupos étnicos mais importantes na composição do povo brasileiro-negro, índio e europeu, não interrogava, mas transportou para o papel, e para a eternidade, sua paixão por esta terra tão enxovalhada ultimamente, extraindo do seu peito as dores de morar distante do Brasil, no seu belíssimo poema Canção do Exílio, do qual transcrevo apenas a primeira e a última estrofe, que são muito significativas:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
…………………………….
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Outro poeta de grande estirpe literária, Antônio Frederico de Castro Alves, nordestino natural da Bahia, conhecido como o “Poeta do Escravos” por mostrar a sua indignação pelo país aceitar a escravidão e, principalmente, por emprestar as suas cores nacionais para o tráfico negreiro, clama a um dos principais símbolos nacionais, a nossa bandeira, com fúria, em seu grande poema “O Navio Negreiro”, do qual ouso transcrever as duas últimas estrofes, como se permite conspurcar uma nação inteira pelo uso indevido de sua imagem:

Auri-verde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que à luz do sol encerra
As promessas divinas de esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um Íris no pélago profundo!
Mas é infâmia de mais!…Da etérea plaga levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! Arranca esse pendão dos ares!
Colombo, fecha a porta dos teus mares.

Tanta indignação e tantas recordações dos meus tempos de estudante do primário e ginásio no “Colégio Salesiano São José” me ocorrem neste exato momento por ter visto na noite do dia 27 de maio deste ano, no “Jornal Nacional”, as imagens de um grupo de “soldados” (seriam mesmo soldados?) do nosso exército, coberto de glórias nos campos de
Lomas Valentinas, Humaitá, Itapiru, Curupaiti, e na maior batalha campal já travada na América do Sul, Tuiuti, durante a guerra do Paraguai, sem esquecer as vidas perdidas na conquista heróica de Monte Castelo, na Itália, na segunda guerra mundial, dançando “funk” ao som do Hino Nacional Brasileiro.
Fui educado aprendendo a respeitar a Deus (Alá, Jeová, Yavé, Grande Arquiteto do Universo ou Tupã, seja que nome tiver), amando-O sobre todas as coisas; a família, embrião de qualquer nação, e a minha pátria, representada pela nossa bandeira e pelo nosso hino nacional.
Às quintas-feiras, postados diante do mastro, no pátio do colégio, havia o hasteamento da bandeira, ao som do Hino Nacional Brasileiro, logo seguido do Hino à Bandeira.
A minha dor foi, e continua sendo, tão grande, que não resistí ao ímpeto de tranferi-la para palavras. Qual o país que queremos deixar para nossos netos? Este que vivemos hoje, onde a juventude, inclusive a infância, se droga abertamente nas ruas? Onde se compra “crack” e/ou “oxi” em qualquer esquina das metrópoles? Este onde a educação está relegada a último plano no pensamento dos políticos? Este, onde se usa subterfúgios, como pano de boca para enganar a população, como as cotas de acesso às universidades para pobres, negros ou índios? Porque não se oferecer uma educação digna aos brasileiros, sem distinção de credo, cor da pele ou camada social, proporcionando igualdade na disputa pelas vagas nos cursos desejados? Porque insistem em criar “raças” em um país que tem como
tradição a paz e harmonia entre os seus habitantes, que se transformam em um único povo, que é o povo brasileiro?
Ao mesmo tempo em que me interrogo, reflito sobre os absurdos que ocorrem no Brasil ultimamente.
O Ministério da Educação, órgão que deveria prezar pela educação e cultura, como o próprio nome diz, adota e diz que está correto, um livro onde se apregoa a falta de concordância verbal, alegando que é a linguagem coloquial…”nois vai pescar, o povo estão sofrendo”…
Deus do céu! aonde falta este país chegar?…
Como queremos que os jovens respeitem os nossos símbolos pátrios e amem o Brasil, se eles não foram educados para tal? Como queremos que este país, que geograficamente tem o formato de um coração, mostrando assim que está pronto para acolher e propiciar aos seus habitantes sua subsistência, se torne uma potência mundial (não em termos bélicos), mas em termos científico, cultural, humanitário e com um povo naturalmente feliz, se começam a ratear seu território, criando enclaves étnicos, como a reserva Raposa Serra do Sol?
Precisamos, urgentemente, rever os rumos do Brasil, para evitar a sua queda em “pélagos profundos”.
Reflita você também sobre este meu desabafo.
E que Deus nos proteja!
* Julio Cesar Cavalcanti da Rocha é médico e Conselheiro do Conselho Regional de Medicina.

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