terça-feira, 14 de setembro de 2010

ARTIGO - WILSON FILHO

Terceirizaram as Mães!


Segunda-feira, 21:00, celular tocando...
- Alô, Dr. João (nome fictício)? Aqui é a mãe do Paulinho (nome também fictício, mas que vem sempre no diminutivo). É que nós passamos em consulta com o senhor sexta-feira, lembra? O Paulinho estava com febre.
- Ah, lembro sim! Trata-se de uma gripe, não é mesmo?
- Iiiisso, Doutor!      Então...    A febre baixou, porém a tosse seca persiste à noite.
- Olha senhora, se não me engano, foi explicado ao acompanhante, que a tosse provavelmente persistiria mais tempo. Receitei, inclusive, medicação para aliviar os sintomas... (interrompido)
- PUTZ! Mas isso a babá não me falou!!!
DR JOÃO DESLIGA O TELEFONE

            Tônica. As crianças não vêm mais acompanhadas de seus pais às consultas com o Pediatra, seja na puericultura ou por intercorrências. É uma variedade infinda de parentesco e afinidade, chegando ao cúmulo da frase: “Não, não! Ele é filho da minha vizinha; é que eu falei que ia trazer o meu...”. Tenho adotado a seguinte classificação no item “informante” de minha anamnese: (a) mãe/pai, (b) avós, (c) babás, (d) tios e... (e) outros.
Tudo bem; dou o braço a torcer. Algumas babás são melhores em relatar os sintomas de seus “pseudofilhos” do que as próprias mães que, nos dias atuais, dedicam-se cada vez mais ao trabalho, atividades culturais, salões de beleza, liquidações, saldões de balanço, não necessariamente nesta ordem.
Há, entretanto, uma situação interessante que se dá quando estes pacientes vêm ao Pediatra acompanhados por pessoas que não têm qualquer contato com o dia-a-dia da criança, como vizinhos e amigos (dos pais, claro). A entrevista médica foi acrescida de uma ferramenta tecnológica incrível – o telefone celular. Gasta-se muito mais tempo aguardando o acompanhante perguntar à mãe da criança sobre sintomas, medicações em uso, horários, doses, se há outras pessoas doentes na família etc.
E não para por ai! Após o exame físico, chega a hora de explicar o diagnóstico e passar as orientações e receitas. Neste momento, sugiro de cara, solicitar o telefone e falar diretamente para a mãe ou o pai da criança, tomando o cuidado de gravar a conversação para evitar situação semelhante à descrita no início deste artigo.
Em tempos de comércio em alta e concorrência acirrada, é esperado em breve um novo plano das operadoras de telefonia móvel para este público que cresce a cada dia.
Provavelmente, chamar-se-á TIMPed, ClaroKids, OiDr...
Como diria um estimado amigo do C.C.R.M.: “O que é a tecnologia...”

Wilson Cleto de Medeiros Filho
Pediatra (somente consultas presenciais)

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